sábado, 11 de outubro de 2008

Ali se encontra Montemor


119.A

Pouco ou nenhum significado tem a vida humana para os acompanhantes de Sabiano Raimundo. O atormentado líder continuava agarrado ao seu troféu, sem sentir pinga de dor ou piedade. Os seus actos não careciam de qualquer esclarecimento. As vidas ceifadas eram abandonadas como gordas bátegas de chuva a cair pesadas em solo sedento de frescura. Já não há cansaço, padecimento, vigor ou metodologia de acção que seja minimamente coerente ou que obedeça a uma estratégia calculada com propósitos bem arquitectados. Ninguém neste grupo de carniceiros alienados segue em rigor um estratagema de acção. Apenas as ordens daquelas vozes tão frias, como frias têm sido as expressões de Raimundo, vão continuando a semear, na mente cada vez mais perturbada do Zanata, os propósitos do grupo. Largada a cabeça de Mohammed no fundo da fenda que se abriu como uma porta para os infernos, bem debaixo do corpo de Sabiano, as ordens foram dadas para continuarem a caminho de Montemor, com o intuito de presentear o séquito da infanta e a própria filha de el-rei Dom Sancho I, com uma viagem sem regresso ao mundo dos mortos. Ao monarca serão depois servidos os restos mortais da infanta, lenta e moderadamente, para que a dor dessa perda se vá perpetuando até ao limite da sua sanidade.
.

Sem comentários: