quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Empreitada de Nosso Senhor

112.


A descoberta dos secretos caminhos que levam o grande mestre Templário Fernando Dias a acreditar na força Suprema que os direcciona para lá das suas bermas, desfraldou em Castro novíssimas formas na busca da explicação para as muitas questões que carrega fundo em si. O peso do sagrado e importante objecto que transporta e protege, com as forças que vai encontrando, sente-o com um vigor e intensidade irreais. Não tem conseguido descansar. Dormita, com um olho aberto, quando consegue. A enorme tarefa que lhe foi atribuída coloca Castro tão atento e dedicado, que a sua realidade está carregada com invulgar energia. No seu ombro sentiu a ligeira pressão de um contacto. Imediatamente saltou como uma jovem lebre selvagem em fuga, ameaçada por faminto predador.
- Santos Céus rapaz, que mal lhe fizeram? Saltou tão ligeiro! Parece afrontado por um espírito adulterado.
Castro olhou de maneira alheada, distante, o enorme vulto de Fernando Dias, que daquela forma inesperada lhe provocou este alerta. Num breve segundo se recompôs, se transportou de novo para o firme solo do castelo de Ourém e se acalmou.
- Meu senhor, mil desculpas, não foi minha intenção parecer louco ou desviado. As divinas incumbências que me destinaram têm-me trazido tão ocupado nos meus afazeres de alerta, atenção e vigília que, confesso, o descanso por mim não tem encontrado pouso. Valha-me o Senhor Santíssimo na ajuda que me tem fornecido à alma para conseguir resguardar património tão Divino.
- A restante jornada que nos resta até Tomar é curta e de pouca dificuldade. As delicadas e secretas incumbências que nos foram destinadas, por quem de direito, temos de continuar a executar, da única maneira possível. Com a honra e glória devida. Este segredo tem de continuar a ser mantido, preservado delicadamente, mas também de forma heróica e eficaz. Muitas surpresas, mais que as calculadas desde a nossa saída de Idanha, acabaram por se atravessar no nosso caminho. Agora que estamos tão perto de Tomar, quem diria que seríamos portadores deste sinal de Divinas proporções. As nossas vidas foram abençoadas com esta empreitada de Nosso Senhor. Possam nossas mãos de leais servos em Sua causa, prover alojamento secreto e seguro a este Ícone Sagrado no templo em Tomar.
O Fiel e mui honrado pajem Castro, ao escutar estas palavras, percebeu que os dias passados nesta demanda não se compararão em importância com outros que suas vidas ainda terão em existência. Deu-se conta da luz que os iluminou neste Destino. As companhias partilhadas, as vidas que ajudaram a salvar, as vidas que iluminaram as suas, os sonhos repartidos com digníssimo el-rei Dom Sancho I de Portugal, as imensas esperanças carregadas para o futuro desta pequena mas tão honrada Nação. Nos seus futuros, os dias que lhes restam em vida, não mais esquecerão estes assim experimentados.
- Meu Senhor, por muitos anos que venha a viver nesta terrena existência, nunca as memórias destes últimos dias de mim se perderão. Sinto-as cravadas na alma com a eficácia de um ferro quente em brasa. Louvado seja o Senhor!
- Amén!
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