quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Profunda e transparente amizade


122.

As calmas noites dos muitos silêncios que ainda pintarão os sonhos de Alzira, serão as amigas onde se abrigará a continuada escrita do secreto diário. Depois de nele terem sido encerradas as lembranças geladas daquele infinito e tortuoso carrossel branco, com todos os cuidados do Mundo, a menina descansou um sono perfeito nas nuvens da sua cama. Não foi interrompida nesse repouso por qualquer conto que lhe alimentasse as imagens dos sonhos.
Aproveitando a serenidade deste descanso, todos os voos em Husadel procuraram formas de resgatar e abrigar, com esperança, todos aqueles viajantes perdidos. Muitos são os sonhos que as memórias perdidas não conseguirão acompanhar. São quase infinitas as caminhadas a realizar, os transportes de tantas almas que caminham libertas mas perigosamente desprotegidas, as necessárias recolhas com os devidos cuidados, a sua metódica arrumação, executada cumprindo todos os correctos requisitos de atenção. Trata-se, no fundo, de salvar toda a Humanidade que, de outra forma, se arriscaria a uma precoce extinção nesse longínquo Universo de Husadel.
Os lagos gelados começaram imediatamente a ser reconstruídos pelos Deuses, que se entre ajudaram no cumprimento dessa missão. O enorme abraço entre Francisca e Castro continuava a ser exercido no espaço restrito daquele automóvel, como se o tempo tivesse deixado de fazer qualquer sentido. Era tão profunda esta amizade, tão intensa e transparente, que as suas almas se elevaram para aquele mítico lugar que todos julgamos poder existir, mas que apenas os de coração puro alguma vez conseguirão visitar. É aí, nesse local e neste instante, que se encontram Castro e Francisca abraçados como se fossem um só.
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