sábado, 18 de outubro de 2008

A desejada tonalidade de um segredo


123.C

Ao avançarem pela escura noite, abrigados pelas muralhas da parte Norte do castelo, os Templários faziam-no preparados para entrarem em contenda, caso isso se viesse a provar necessário. Nas mãos seguravam os instrumentos das batalhas, alguns com décadas de histórias, como as espadas de Gabriel de Béziers e Patrício de Zamora, que os acompanham desde os tempos já longínquos do início das suas peregrinações. Estes e todos os restantes combatentes que fazem parte da honrada e mui nobre guarda de mestre Fernando Dias, anteciparam os planos deste avanço numa estratégia bem urdida e convenientemente arquitectada com el-rei Dom Sancho I.
A carta que fora entregue a mestre Fernando Dias deu-lhe conta de uma acção planeada com uma táctica inteligente. A armadilha para dar terminação aos hábitos assassinos de Sabiano Raimundo encontra-se montada. O isco começou a ser mordido. A infanta real Dona Teresa Sanches não foi transportada para Montemor protegida por uma guarda e um séquito de acompanhantes, conforme Sabiano Raimundo julgava. As notícias desta fuga e do transporte da filha de el-rei foram propositadamente deixadas pelos caminhos do povo. As esquivas formas com que deram ocultação à jornada foram realizadas com intencionais irregularidades, para que tanto segredo não passasse em total invisibilidade. Apenas a necessária para lhe dar a desejada tonalidade de segredo.
O isco acabou por ser mordido. As intenções em aplicar a uma qualquer figura real os orgulhosos martírios do Demónio, eram saborosas demais para que o Zanata suspeitasse de algum ardil ou de planeada artimanha.
Esta madrugada anunciou a presença das figuras de Raimundo dentro do castelo de Montemor, como se suspeitava poder vir a acontecer. As luzes de duas tochas serviram de informação para Fernando Dias, tal como fora programado. A indicação foi transmitida na parte das muralhas viradas a Oeste, por tropas da especializada guarda privada de el-rei Dom Sancho I. Em conjunto com os fiéis cavaleiros Templários de Fernando Dias, a quem a tarefa foi também designada, vão no espaço fechado do castelo em Montemor receber com a honra devida Sabiano Raimundo e seus ferozes discípulos.
- As perdas de tantas vidas, que pelos caminhos desta cilada acabaram por tombar, serão recordadas na altura em que estes monstros de humanas formas forem trespassados pelas pontas de nossas espadas! Combatamos estes brutais e sanguinários assassinos servindo-lhes rápida a morte destinada. Que todas as almas inocentes dos que nas suas mãos sofreram inimagináveis torturas, possam, a partir de hoje, merecer a tranquilidade do descanso Eterno.
Com estas palavras de encorajamento, os Templários entraram de rompante pelo portão principal do castelo de Montemor, aberto por três dos guardas de elite comandados para esse efeito, após ter sido dado o sinal luminoso para o exterior. O ensurdecedor barulho de mais de trinta cavaleiros a avançar como um só pelo interior do castelo foi tal, que os fiéis mercenários de Raimundo, com Faysal à cabeça, pensaram tratar-se de novo tremor de terra como aquele que quase tinha engolido o chefe há poucos dias. Ao seu redor começaram a dar conta de um círculo de cavaleiros que os cercava sem permitir qualquer hipótese de fuga. De onde apareceram, como foi que ali chegaram, que artes dos Demos foram utilizadas para se encontrarem, no espaço de um simples momento, a poucos segundos de uma morte certa e atroz?
Das portas dos aposentos reais, junto à capela do castelo, agora abertas de par em par, saíram mais de vinte outros soldados, com trajes escuros e elmos negros, muito bem armados e de bestas apontadas às humanas bestas que ali espantadas e surpreendidas se quedavam à sua frente.
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