sábado, 4 de outubro de 2008

Secreta e Sagrada vontade


115.


Em Ourém o alvoroço estava criado. Alguém batia de forma desgovernada na porta do castelo, com as vozes bem alvoraçadas a disso darem aviso. Após o dia de calor infernal que se tinha feito sentir, estavam os homens descansados ao relento da noite, quando este agitado reboliço lhes retirou o repouso.
- Meus senhores, por quem sois? Ao que vindes nestas horas e nestes preparos? Identifiquem-se pois por cá muitos valorosos cavaleiros Templários vos farão frente em destino.
Do lado de fora, resguardados pela noite escura e ainda quente, quatro ofegantes nobres vindos da corte de Dom Sancho I identificaram-se. El-rei tinha-os preparado com toda a urgência. Eram portadores de uma importante mensagem que deveria ser entregue ao mestre Fernando Dias. Ao Templário exigia o rei uma rápida resposta. Ainda nesta noite e sem descanso, retornarão a Coimbra com ela, pois das palavras e acções que Fernando Dias resolver empregar nessa resposta, poderá depender a esperança de vida da filha mais velha do Rei, Dona Teresa, Infanta de Portugal.
Castro deixou de sentir o peso físico do objecto sagrado que tem transportado. Reparou na alteração de semblante do seu senhor ao ler o recado real. As estradas parecem ser sempre acrescentadas em tamanho quando as jornadas se aproximam dos seus destinos finais.
- Meus senhores, adivinhávamos uma rápida e feliz caminhada até Tomar. Temos sempre sido acompanhados pela secreta e Sagrada vontade do Senhor que antecipa os nossos trilhos, abençoando e iluminando nossas jornadas. El-rei acredita que a vida da infanta Dona Teresa está terrivelmente ameaçada por esse bando de malfeitores que temos vindo a perseguir desde Rates. Apareceram mortos alguns seguranças moçárabes que eram responsáveis pela limpeza das pistas e dos trilhos deixados pelos cavaleiros do séquito da infanta. De onde os encontraram até Montemor, não fica mais do que a distância da vontade. O perigo que corre Dona Teresa é, por este facto, muito grande e real. Nada mais nos resta que elaborar, com a necessária rapidez, um plano que nos faça a todos chegar a Montemor ainda ontem. Disso depende a salvação da vida da filha mais velha de el-rei!
Os receios de Castro eram enormes, gigantescos, como o perigo que, todos agora o sabiam, corria a vida da infanta. Não sonhava ser capaz de transportar todo o peso daquele símbolo até ao seu destino, apenas acompanhado por dois valorosos cavaleiros Templários que Fernando Dias escolheu para sua escolta. Estes não imaginam minimamente a importância extraordinária de que se reveste essa sua protecção à incumbência de Castro.
- Que Deus Nosso Senhor a Todos Proteja!
- Ámen!
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