segunda-feira, 21 de julho de 2008

O caminho da vida eterna


95.

Manter a segurança da distância. A cidade encontra-se bem vigiada. As portas de entrada estavam extremamente bem controladas. A esta situação não seria estranha a espampanante maneira como Raimundo fez anunciar as suas intenções. Tudo se encontrava inspeccionado até à exaustão. Aguardaram dias até que Raimundo começou a sentir um odor estranho vindo dos mercenários que o seguem desde que se recorda. Humilhantes eram, na maioria das vezes, os tratos com que os servia. Inflexível, feroz, trata-os como se fossem seus escravos. E eles sempre agarrados a si como cães danados, mas com total fidelidade ao dono, por quem morreriam de prazer, assim lhes fosse dada essa ordem de comando. Odeia-se, e odeia-os da forma mais incontrolável possível. Podia ser uma estratégia do seu querer, mais uma anomalia mal regulada da sua mente exacerbada.
Os dias passavam e as ideias pareciam ter-se esgotado. Seria uma completa loucura tentar entrar agora na cidadela fortificada da capital do reino, mesmo se a sua vontade em dar seguimento aos intentos de malvadas crueldades vibre cada vez com maior intensidade. E tentar findar com a vida do rei poderia sempre aguardar por momentos mais propícios. Quando ele se ausentar por motivos de régios afazeres ou por outros em que a presença de Dom Sancho seja verdadeiramente imprescindível. Devia ter raptado Dona Teresa no Lorvão, mas a sua miserável loucura para tal desiderato não lhe dera ordenação. Começava a duvidar das suas capacidades de estratega de actos de pavor. Agora que está bem perto das importantes figuras do reino, de lhes alterar as vontades e rotinas, de lhes provocar inesperadas azias no decurso das suas heréticas preocupações, é normal que aumentem as dificuldades em conseguir dar correcta conta dos seus propósitos com a celeridade ambicionada.
- Vou pensar duas vezes antes de pensar corrigir um erro meu! Se não fiz asneira em Lorvão é porque tenho de dar confiança em quem me comanda as vontades. Não tenho sobre isso qualquer outra opção! Tomei mais uma decisão. Aquela que me comanda a cabeça como sendo a mais vantajosa solução para todos, por mais desagradável que nos possa parecer, descoberta bem no fundo das minhas vontades. Iremos aguardar mais um par de dias para tentar antecipar alguma movimentação que nos dê informação de que o rei esteja de saída. As bem guardadas muralhas defensivas da cidade não nos deixam outra alternativa. Até lá, vamos dar alimento às nossas vontades de matança. Eis que se aproximam mulheres lavadeiras com barrigas emprenhadas. Não deixemos fazer crescer o Mundo com mais estas almas. Andarem assim sozinhas pelos campos. Deviam ter mais cuidado! Deviam ter muito mais cuidado. Demorará milhares de anos a corrigir este veneno que me encharca a alma. Alimentemos as nossas vontades de matança! Ofereçam-lhes o caminho da vida eterna!
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