sexta-feira, 18 de julho de 2008

Os incensos do deleite


88.

Fazia calor. Os Templários apostaram que a conversa entre El rei e Gonçalo não duraria mais que uma pequena mão cheia de minutos. Encontravam-se algo desorientados pois desde a tarde do dia anterior que os dois não arredam pé das conversas que os mantinham desaparecidos. Apenas Fernando Dias considerou normal esta demora. Na sua cabeça estava já trilhada a verdadeira leitura da personalidade de Gonçalo de Arriconha. Anda por este mundo como espírito da luz. Escreve o destino que pisa com a certeza de um dos anjos do Senhor. Não permite mal entendidos. Do seu inabalável castelo de ideais saltam, esporadicamente, as verdades que por lá mantém escondidas apenas com a permissão da sua genialidade.
Durante este interregno apareci, atordoado pela experiência da noite passada. Trazia em mim escrevinhadas as doces melodias sentidas e os cavaleiros Templários facilmente fizeram delas a correcta interpretação, montando com facilidade a história que contavam. Olharam para o sangue que desenhava, já seco, um percurso ondulante pelo meu pescoço, desde o que faltava da minha pequena orelha.
- Homenagem te seja feita rapaz brioso. As donzelas da noite já te granjearam a experiência da carne. Não mais voltarás a ser quem foste! E que lembrança te deixou marcada em ti, física e em escultura da alma. Cumpriram-se as glórias da tua juventude ó rapaz. Já és bem homem agora, não te esqueças disso! As luas nem sempre são de feição, deves aproveitá-las quando estão cheias!
Com estas palavras, Fernando Dias captou a força de uma noite no meu acordar desgrenhado e inocente. Transformei-me em rubras feições, despido da inocência já perdida! Gratidão seja por mim devida às doces e escondidas humanas comoções cujos terrenos prazeres assim se apresentam, sem alertas ou iniciáticos avisos.
Transportava os incensos do deleite bem agarrados ao corpo, e disso tinha perfeita consciência. Regressava, através do seu melodioso chamamento, às intensas tarefas de prazer a que me entregara nessa noite, só de as sentir em odores tão profundamente cravados em mim. Relembrava todas as vagas de intensa paixão que a menina me fez rebentar em branca espuma nos seios do seu sentir. As labaredas incendiavam-me os dedos e as mãos deixava tranquilas, bem seguras pelas fortes guardiãs da minha amante, que me manteve sempre subjugado nesse doce e húmido cativeiro de sedução. Tivesse eu capacidades de escriba ou de expositor de relatos de fé, e este acontecimento singular não deixaria apenas guardado em escultura das minhas memórias. Palavra de Castro, pajem em honra e devoção do grande mestre Templário e meu senhor, Fernando Dias.
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