quarta-feira, 11 de junho de 2008

Misteriosas sensações premonitórias


56.

- Sabia que esta retirada de Ferreira teria regresso ditoso! Sentia eu uma amena sensação de paz. Dava-me o corpo assim sinais que validavam em mim essa certeza. Já não é de agora que meu corpo parece entender, através destas misteriosas sensações que dificilmente sei colocar em palavras, coisas assim estranhas. Antecipo resultados de contendas, doenças e maleitas. Até coisas mundanas como a capacidade da terra em dotar com proveitos serenos a quem a cultiva ou em antecipar catástrofes que as ponham em causa.
Fernando Dias mantinha-se concentrado na conversa com Gonçalo, mas conservava nele seguras distâncias na fé que desejava dar a tais confissões. O Mosteiro estava já à distância de um olhar. Os religiosos, arquitectos e demais acompanhantes sentiam agora e só agora a tranquilidade em forma de certeza.
- Sei aquilo que o trás por cá senhor Fernando Dias. A coincidência ou o esboço do seu destino fez com que vossos Templários acabassem por ter reais motivos para por cá ceder passagem. Não era esta a primeira das razões que aqui vos trazia em demanda. Mas disso nem a seu pajem deu ainda relato e contudo, tantas foram já as conversas que em segredo lhe foi tecendo na razão.
Fernando Dias não conseguiu evitar um olhar de estranheza lançado em minha direcção ao ouvir estas palavras a Gonçalo. Esperava alguma confissão desenhada nos músculos de minha face. Procurava a certeza de que com o rapaz eu teria quebrado aquele secreto pacto de confiança. De que maneira teria podido aquele jovem ter dado conta de tão bem guardadas informações? Em todo este vai e vem não se apercebera de um instante que fosse em que Gonçalo e eu tivéssemos estado a sós ou que ele de nós tivesse marcado rápida ausência.
- Não tente encontrar respostas a esta minha capacidade de ler acontecimentos a ocorrer. Outros existem que as gentes julgam bem guardados nos impenetráveis cofres de suas almas. Já lhe confessei, meu senhor, que nem eu mesmo consigo dar explicação a esta capacidade que vem em mim crescendo com o passar dos dias. O certo é que consigo decifrar qual a verdadeira e secreta razão da sua vinda a Ferreira. E digo-lhe que nada tinha que ver com a protecção que nos acabou por ser devida pela possível destruição do Mosteiro pelos ataques brutais de um grupo de sanguinários e bárbaros assassinos a soldo de Afonso XI de Leão.
Fernando Dias olhava agora para a pequena mas muito singela figura de Gonçalo de Arriconha com a certeza de estar perante um verdadeiro caso de vida. São estas figuras capazes de fazer o vulgar homem sentir vontades de veneração. Sabia bem, por própria experiência, que estes são tempos em que uma pessoa como Gonçalo de Arriconha facilmente faria crescer no povo a vontade em o transformar numa santa figura de veneração.
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