domingo, 15 de junho de 2008

Os fiéis amigos do reino


62.


Nada vem por acaso. Os tempos que correm são vividos em sobressaltos tamanhos. Fernando Dias chamou-me de dentro da pequena construção onde se reunia com Gonçalo de Arriconha.
- Valoroso e fiel pajem, peço-lhe que vá rapidamente chamar o Templário Adalberto pois dele necessitamos serviço. Vá, e assim que cheguem apresentem-se a minha presença.
Assim o fiz. Os Templários estavam agora em diversas tarefas de apoio aos religiosos. Alguns preparavam as montadas, limpavam as armas, tratavam de preparar os diferentes tipos de mantimentos necessários para o que ainda de nós aguarda esta missão. O Templário Gabriel, um dos mais idosos do grupo, juntamente com Patrício de Zamora, trocavam conversa numa sombra que lhes protegia os corpos e os rostos. Os seus elmos e armas descansavam junto a eles dando conta do espírito mais liberto que os cavaleiros já em si carregam. Eram estes dois templários dos mais nobres em porte e conversa. Todos lhes dignavam a maior das admirações e respeito. Segundo constava, a estas duas figuras, mais de quarenta anos em serviço de cruzadas e da ordem templária carregavam os seus corpos. Suspeita-se que Gabriel de Béziers tenha sido um dos mais proeminentes defensores de Jerusalém aquando da sua tomada pelas forças de Saladino. Essas memórias, contudo, nunca ninguém ousou indagar ou descobrir. Gabriel jamais as terá referenciado ou delas dado conta, salvo ao próprio Fernando Dias. Há quem diga, mas disso não se pode fazer fé, que foram tantas as vidas humanas que ceifou, tantas as que protegeu, tantas as que não defendeu, que jurou dedicar o resto de sua vida, até falecer, a penitenciar-se para remissão dos pecados. Esteve os últimos quinze anos em quase total silêncio por via dos votos realizados. Encontrou em Fernando Dias e nos seus Templários a luz do seu destino. Dizem que continua secreto e introspectivo nas formas e trejeitos e que é o mais fiel de todos os fiéis templários do grupo. Ele e Patrício de Zamora. Este último, sabem todos que assistiu, ainda jovem, à assinatura do célebre tratado entre o pai de Afonso I de Portugal e o Rei Afonso VII de Leão e Castela e Imperador de toda a Hispânia. Foi aí reconhecida a passagem a novo reino de Portugal ao condado Portucalense e fizeram de Dom Afonso Henriques novo vassalo da Santa Sé. Sendo o pai de Patrício de Zamora devoto amigo de um arcebispo de Braga, acabou por enviar Patrício para as terras do novo reino e aí dar-lhe educação. Também acompanhou, mais tarde, tal como Gabriel de Béziers, os cruzados e a integração na ordem templária, onde juntos permanecem agora às ordens de meu senhor Fernando Dias, quase como inseparáveis irmãos de sangue. Aliás, irmãos existem que em nada se aparentam em relacionamento com a destes dois nobres cavaleiros Templários que na verdade não o são. Quanto a Adalberto, era figura bem mais nova e extrovertida, muito hábil no manejo de bestas, espadas e de toda a arte de cavalgar. Servia em Idanha vindo de terras mais a Sul. Em Santarém tinha seu pai dado luta na conquista da cidade. Acompanhou depois Gualdim Pais em toda a enorme tarefa de edificação do convento em Tomar. Esteve ainda com eles seu Pai, mestre Gualdim, Fernando Dias, entre tantos outros Templários, em 1190, na defesa do Mosteiro contra o invasor muçulmano ajudando assim a evitar ataques mais furiosos a Norte da cidade, onde o filho de Al Mansur tentava reconquista de território para a causa muçulmana. Toda esta mui nobre gente, acompanhada por fiéis e serviçais nobres homens dedicados à causa do templo, dotam este grupo de homens de uma nobreza de causa e de carácter como desde há muito não se via no seio da nação cristã. E estão aqui reunidos, neste reino tão jovem, auxiliando-o de formas tão rigorosas e protegendo de maneira verdadeiramente admirável nosso Rei Dom Sancho I.
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