domingo, 22 de junho de 2008

In šaʾ Allāh


71.

Foi marcado por súbitas vontades de médias viagens que Raimundo deu claras instruções aos seus para se colocarem a caminho da capital do reino. Sentiu que ia sendo a hora de arriscar colocar as reais figuras em sentido. Deliciar-se com o poder espantoso do terror e as intensas maneiras de dele tirar benefício para gáudio das suas vontades.
- Às montadas! Vamos fazer uso destas experiências de loucura sem regras para Coimbra. Todos juntos alcançaremos a fama e glória no terror que por essas bandas iremos semear. Corrigir as graças com as quais esses Cristãos se recriam. Julgam estar a salvo das continuadas mutilações e de nossos secretos intentos. Dar-lhes a provar dos mesmos venenos com que nos matam. Dar-lhes a provar essas tão saborosas sensações de tortura.
- Inch’Allah! Inch’Allah! Inch’Allah!
As vozes daquele grupo fizeram-se ouvir bem alto na tarde. Os olhares apontavam agora para sul, onde o próximo destino para as suas crueldades os esperava.
Raimundo guardara, sem motivo aparente, a mão decepada de um dos cónegos assassinados junto a Rates. O motivo pelo qual o realizou fazia-lhe agora sentido nas ideias. Iria utilizar aquele membro para dar início a uma nova época de estranhas saudações e avisos. Lá estava a voz que, de forma tranquila, lhe ia dando assim o comando nas ideias. Tinha de saber lidar com essa dor e solidão, não podia evitá-lo. Queria que parasse! Queria que desistissem dele as vozes dos seus sonhos. Nunca irá ser um homem decente.
Foi bom ter visto aqueles Raimundos a tomarem conta dos estranhos Sabianos de sua família, todos deitados com os cérebros à vista. Estavam à mercê dessa difícil mas tão simples tarefa! Cravar-lhes com firmeza a adaga nas memórias pintando assim a negro o irracional final das suas histórias.
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