terça-feira, 13 de maio de 2008

Abençoado seja Nosso Senhor Jesus Cristo


19.



Seguros pelo escuro da noite, fria conselheira, avançaram com o dever destinado pela Ordem. Se havia caminho que não se desejava desbravar era o que levava à da criação de boatos em que as figuras dos Infernos, sob a ordem do Demónio, andassem de mãos dadas a desgovernar as terrenas paragens do Senhor. Seguiam assim dos mais valorosos servidores neste grupo de cavaleiros. A Sabiano Raimundo e respectivo bando haveriam de dar silêncio e disso fazer notícia. O povo, com a corda da miséria e da fome ao pescoço, alimenta-se com histórias, ora verdadeiras, ora acrescentadas. Era já bastante triste a verdade dos factos.
- Poupem nossas vidas, senhores! Bem aventurados caminhantes, poupem as crianças e velhos que não se podem defender!
Chegavam assim, não poucas vezes, as vozes de aldeões e ajuntamentos populares que com pânico eriçado na pele, de joelhos, pediam clemência. Acalmadas as almas, procuravam-se por correctas informações e relatos que lhes dessem conta dos factos. Era necessário saber ouvir, saber de quem ouvir, saber, por vezes, a quem usar para chegar mais perto do desejado intento da demanda.
Pelas paragens de caminhos que se sabiam mais curtos, dias foram gastos até que Rates estivesse à distância de um só. As terras lamacentas e ébrias de verde, pois os tempos se tinham mostrado de uma impiedade desmesurada, tratavam assim de os pintar na paisagem. Quanto aos Templários, a humidade sentida chegava até aos seus ossos e aos ossos dos animais. Até as armas, acaso os tivessem, estariam a queixar-se dos males do tempo tanta era a água que resolvera o Senhor fazer derramar do céu. Dir-se-ia que demonstrava a dor de quem, nesta Terra tão inclemente, a botava ao chão para lavrar. E o mosteiro de Rates a abrir a paisagem lá ao fundo.
Desde há três dias que se começava a sentir menos peso nas almas das gentes. Adivinhando o povo, sabe Deus como, qual o propósito daquela cavalgada, chegavam silenciosos à beira dos caminhos aguardando a nossa passagem. O meu senhor nunca falou nestes últimos percursos até à visão do mosteiro lá longe. Virou-se depois para mim, tocou-me suavemente com a mão no ombro esquerdo e fez o sinal da cruz na minha cabeça. Mão no peito e de seguida a oração com a chegada ali tão perto.
- Abençoado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, amén!
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