quinta-feira, 8 de maio de 2008

A cor da esperança

2.

Desde sempre julgou possuir a sensatez do bom juízo. Segurava a réstia do seu orgulho com elegância. Nem pensar em deixar que os outros percebessem a cor da sua esperança. Estava muito esbatida, de um sépia desbotado, apesar de haver quem delire com estes tons pastel.
António prefere coçar o alto da cabeça sem reflectir o porquê deste seu tique. Nunca soube se era devido a algum pequeno trauma que lhe ficou da infância ou se era apenas porque sentia por aquela zona uma repetida comichão, como se alguém dentro da sua cabeça precisasse de constante atenção. Algum duende fanfarrão de barbas até aos pés gozava este seu pequeno poder encefálico.
- Olha lá Tó, coça lá outra vez o cocuruto capilar das tuas fracas ideias velho barrigudo. Sempre a emborcar cervejolas e a engolir tremoços. És mesmo básico, básico do piorio.
Aquela repetida voz feria-lhe esse seu orgulho desbotado. Que nervo sentia por não conseguir desligar aquele canal interno que lhe estava sintonizado no cérebro. Aumentava na mesma proporção a vontade de coçar a cabeça novamente. Que raiva lhe dava por não se conseguir controlar. Se ao menos à sua Alzira não lhe tivessem arranjado esse emprego Celestial, caramba! Mas será que havia mesmo necessidade dos seus dotes lá por Cima, será que havia?

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