domingo, 11 de maio de 2008

Céu azul de domingo


15.



Alzira era a mulher mais bela do Mundo. Nunca tinha sido vista uma beleza assim por aquelas bandas. Desde muito nova que todos achavam que a menina devia ser estrangeira. Os seus cabelos dourados e as luzes verdes que lhe iluminavam o rosto eram uma riqueza rara ao serviço da espécie humana. Não havia quem a não desejasse passear pela mão quando pequena. As tias quase bulhavam para ter a vez de a levar a passear ao jardim da vila. Gostava de brincar às princesas mas a sua mãe não gostava muito de a incentivar a tal façanha. Os outros já a apaparicavam o suficiente. E por outros eram mesmo todos os outros, familiares, amigos, parentes mais ou menos afastados, vizinhos e demais pessoas. Sempre a menina, como imã, atraía para si os olhares, os sorrisos, as atenções e os piropos.
Filha única, coisa estranha naquele tempo, pois a doença da mãe assim destinou, ainda vinha botar mais tempero na sopinha do feitio que lhe ia moldando a infância. Sonhava com quintas apalaçadas, daquelas que lia nos romances do Eça. Com viagens a destinos excêntricos. Ouvia falar do cinema, dos actores e actrizes e de como lá pelas Américas se crescia vedeta com essas coisas modernas. Foi assim que lhe começaram a colar o nome com que foi ficando conhecida enquanto menina. A pequena Marilyn. Era a nossa pequena Marilyn.
Chorou como se fosse da própria família quando soube da sua morte noticiada pela rádio. Tinha apenas catorze anos e foi como se um bocado de Norma Jeane tivesse voado para o coração de Alzira. Como se a tivesse sentido lá longe nas Américas amiga do peito. Uma ligação difícil de explicar. Certo é que também António Júlio não conseguiu defender-se dos seus efeitos e mal a conheceu em 65 o seu destino tinha ficado traçado. O giz com que escreveria o futuro da sua existência na ardósia dos tempos estava nas mãos deste anjo de asas azuis imortais.
Castro continuava a olhar para Tó. Parecia que lhe estava a ler os pensamentos.
- O que é que tu queres malandro? Dou-me por feliz por teres aparecido no Sábado do meu contentamento. Já nem me vinha à memória como é que se metiam as mudanças, quanto mais lembrar-me do caminho para a Arrábida. Dá-te tu também por feliz, olha que nem sempre olhamos para um céu tão azul como o deste Domingo. Essa é que é essa!
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