quinta-feira, 29 de maio de 2008

Tempos de mudança e demência


37. - A

Como sentiram rápidas mudanças nas intenções daquele dia que acabara de despontar, muitos dos monges de Ferreira aproveitaram para continuar aquela fuga silenciosa rezando nas catedrais do seu saber as orações divinas que os protegessem desses bandidos assassinos.
Mal a manhã se insinuou em alvorada, os restantes Templários com Fernando Dias à cabeça avançaram em rápida cavalgada em direcção a Ferreira. Nem tempo havia para pensar tal a velocidade com que as montadas arrancaram nessa direcção. Fernando Dias não adormecera nessa noite. Com a cautela das bem-aventuradas missões tinha comigo mantido conversa continuada até o dia e a noite e o dia outra vez terem por nós feito abrigo.
- Os tempos são de mudança e demência. As fés andam conturbadas. O que agora passarei a vos confessar, repito, para que possais pousar fervura em vossa vontade de dar desta conversa publicidade, matar-vos-ei caso o fizerdes!
Espanto meu por estas palavras de meu senhor. Seguro que causaram o efeito por si pretendido. Nem pinga de pestaneio meu olhar derramou. E continuou.
- No seio da própria igreja cristã forças poderosas têm tratado de envenenar com conselhos sombrios as ideias do papa Inocêncio. Eu próprio, enquanto Templário devoto à causa de Cristo com as forças que Nosso Senhor desejar em mim manter, tenho mantido sensatos procedimentos na análise destas enormidades que se começam a desenhar no coração da Europa. O nosso reino, a nossa ordem, as causas de Cristo Nosso Senhor, nunca em tão tenebrosas e ardilosos jogos de humanos interesses se tinham visto envolvidos. Poderosas são as vontades e os escuros poderes da razão, aliados de tantos pecados humanos, de quem santos prefixos se dizem ser portadores.
Mais uma vez as palavras de Fernando Dias me foram de difícil compreensão. Disso, novamente, lhe dei anúncio.
- Da nossa ordem por terras de sul de França são já variadas as perseguições realizadas a quem outros entendimentos de uma mesma fé vai construindo. Sei-o eu, por disposições papais, que se procuram arranjos que exterminem inteiras populações de humanas gentes. Mas se são já os bispos, outro importante clero e o papa que de riquezas incomensuráveis se vão alimentando, de terrenas farturas se vão engordando, que ensinamentos e seguimentos das santas escrituras lhes alimenta as veias da santa razão?
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