sábado, 17 de maio de 2008

Da infância à adolescência


23.

“Anunciamos a morte fatídica da grande actriz norte americana Marilyn Monroe. Morreu tragicamente no domingo, provavelmente em consequência de suicídio. O seu corpo foi encontrado nu na cama. Tinha 36 anos. A estrela, com um longo historial de perturbações, tinha o telefone na mão. Junto dela, encontrava-se um frasco de soporíferos vazio", dizia uma concisa nota de Imprensa.
Alzira ficou lívida! A mãe tinha-lhe arranjado uma revista Vogue que uma colega do emprego lhe trouxera dos Estados Unidos e ficou horas a chorar agarrada às fotografias da Marilyn.
– Não é justo, nada disto é justo! As tuas lindas canções e a tua enorme beleza fizeram com que o Mundo inteiro tivesse inveja de ti. O Mundo foi a tua bruxa má querida Marilyn, foi a tua bruxa má! E agora? O que vou eu fazer da minha vida? A quem vou eu mais procurar pistas para copiar? Tu eras o meu Universo, a minha estrela de luz, e agora dizem aqui que foste tu que te mataste. Mas porquê minha querida amiga, porquê? Aqui neste meu pequeno país dependia de ti para respirar. Saber-te assim tão famosa como pássaro livre voando nas telas do cinema. Escusado será dizer que a minha vida agora, acabou. Estou sem forças para continuar minha amiga, estou sem forças! Mas afinal, porque é que me deixaste sozinha, porquê?
O diário que Alzira escrevia, secretamente mantido bem arredado da possibilidade de descoberta por parte da mãe, ficou naquelas páginas manchado com gotas salgadas. Sempre tinha desejado, um dia, voar até a América e lá por Hollywood ir ter com a amiga. Muitos foram os serões de íntimos segredos que com ela partilhou.
Foi até à janela e nessa noite nem na cama se deitou. Passou-a contemplando o céu, chorando baixinho, agarrada à revista com as fotos da amiga confidente agora desaparecida. Estava segura que algures naquele céu estrelado tinha nascido uma nova estrela brilhante, tão brilhante que todas as galáxias no universo lutavam agora para que esta nova estrela possa delas fazer parte. O firmamento estava muito mais bonito. Marilyn tinha desaparecido da Terra. Este planetazinho era demasiadamente minúsculo para tamanha perfeição.
Acabou por adormecer de joelhos, com os braços apoiados ao parapeito da janela a fazerem de almofada para o seu pequeno rosto adolescente. Alzira tinha crescido naquela noite mil anos; são os anos que demoram a passar da infância para a idade da adolescência.
.

Sem comentários: