terça-feira, 20 de maio de 2008

Escoltados pelo imenso mar


26.

Prepararam-se todos para partir em direcção ao sul. Fernando Dias nem dormiu nessa noite, reunido com Frei Lourenço e com mais dois Templários. As conversas que mantiveram em segredo teriam certamente que ver com estes acontecimentos que vinham manchando o reino de sangue e mortes cruéis. Seguro que a caminhada teria de seguir rumo ao sul, Fernando Dias, bem cedo pela manhã, deu ordens precisas para atrelar todos os mantimentos que nos tinham sido ofertados pelas populações que muniam o Mosteiro das suas necessidades.
- Preparem os animais para a jornada e mantenham-se atentos como falcões a todos os estranhos movimentos que possamos vir a encontrar no caminho! Estejamos tranquilos e rezemos, rezemos bastante, que Deus Nosso Senhor nos irá colocar no caminho da verdade e da razão!
Nos dias que se seguiram o tempo aplacou a sua fúria. Deu-nos azuis e brancos claros na pintura dos céus, brisas suaves com perfumes salgados a mar. Seguimos junto à costa que nos acolheu com aquela imensidão secreta de silêncios e estranhos desígnios marinheiros. Assim escoltados pela nossa direita, fomos seguindo em grupos separados por pequenas distâncias. Assim entenderam ser a forma mais segura de nos precavermos contra qualquer eventualidade. Esses batedores, como lhes chamavam, vinham agora galopando velozes com novidades de um grupo que foi avistado e que entendiam ser suficientemente suspeito para que todos se juntassem e seguissem no seu encalço.
- Senhor Fernando, senhor Fernando! Um grupo que aparenta não ter mais de dez cavaleiros está acampado a cerca de duas léguas de nós, na direcção daquele promontório que já ali se vislumbra. Pareceu-nos estranho pois nenhum deles trás estandarte ou qualquer outra perceptível indicação de proveniência ou brasão. Mais estranho foi o facto de terem dois deles tido o cuidado de se esgueirar para dentro da floresta que logo após a colina por detrás deles os protegia. Não sabemos se nos viram, ouviram ou de alguma forma sentiram a nossa presença. Não faziam fogo e a forma de acampar pareceu-nos demasiadamente árabe para nos ter causado esta estranheza. Era a primeira indicação, desde a nossa saída de Rates, que figuras ou grupos destas características específicas foram avistados. O meu senhor esboçou um ligeiro suspiro como se esta notícia fosse o bálsamo que necessitava para alívio da sua secreta esperança. É que todas as figuras humanas, por mui nobres e sabedoras que sejam, pela sabedoria que as ilumina, carregam em si as dúvidas na igual quantidade das certezas.
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